Willian desabafa após rescindir com o Corinthians: "Não vim ao Brasil para ser ameaçado"

Meia diz que xingamentos a ele e familiares nunca pararam, que isso atrapalhou mentalmente esposa e filhas e nega qualquer atrito com o técnico Vítor Pereira: "Minha saída foi pelas ameaças"

O meia Willian disse nesta sexta-feira que já assinou a rescisão contratual com o Corinthians. E, em sua primeira entrevista após deixar o clube, o jogador garantiu que está voltando à Europa por um único motivo: o clima hostil criado pela torcida do Timão nas redes sociais contra ele e seus familiares.

Segundo o meia, as mensagens ofensivas eram recorrentes:

– Os motivos da minha saída são as ameaças que sofri, principalmente minha família. As ameaças nunca pararam. Sempre que o Corinthians perdia e se às vezes eu não estava bem no jogo, minha família recebia ameaça, xingamentos nas redes sociais. Minha esposa, minhas filhas, depois de um tempo começaram também atacar meu pai, minha irmã.


– Quando voltei ao Brasil, voltei com muita vontade de jogar pelo Corinthians, sabia da pressão, da cobrança, das críticas que iria receber, mas não vim ao Brasil para ser ameaçado, para ter minha família ameaçada a cada jogo que perdia ou se eu não fizesse um bom jogo. Esse é o principal motivo. Sei que não são todos os torcedores, sei que é a minoria, mas ela acaba causando um impacto muito grande e um dano mental, principalmente nas minhas filhas. Emocionalmente isso afeta bastante.

Contratado em setembro do ano passado, ele disputou 45 jogos e fez apenas um gol. Por conta de lesões, o jogador perdeu partidas importantes, o que aumentava a pressão sobre ele:

– Muita gente pode achar que é mi-mi-mi, que estou dando uma desculpa esfarrapada para ir embora... Eu não precisaria fazer isso, porque eu abri mão de muita coisa para poder vir ao Corinthians, não só financeiramente, mas da vida que eu tinha. Aqui no Brasil ia ser uma vida completamente diferente, para mim e para minha família. Mas quando se trata de ameaças, à família principalmente, a gente fica preocupado. Minha família é meu maior patrimônio, então eu tenho que zelar por eles.

– Ficam normalizando a situação, romantizando as agressões, todas essas coisas que acontecem e vem acontecendo no futebol brasileiro, não tem o que dizer para eles, acham que é normal, que tem que ser assim mesmo, mas para mim não é. Essa é uma causa que todos os jogadores precisam brigar. O torcedor não pode ir na sua família depois de uma derrota e xingar, usar palavras que não têm cabimento. Esse é o recado, minha saída do clube foi por esses motivos.

Há cerca de um mês, Willian comunicou à diretoria alvinegra de que desejava sair do clube e voltar à Europa. O camisa 10 recebeu ameaças nas redes sociais, fato que preocupou sua esposa. As filhas do jogador também foram vítimas de ofensas. Ele chegou a registrar alguns boletins de ocorrência.

O jogador admitiu que se surpreendeu com os casos de violência protagonizados no Brasil:

– Um dia pedrada no ônibus, depois um torcedor invade o campo com uma faca, outro dia torcida invade centro de treinamento, outro dia a torcida briga com os jogadores no aeroporto. A família, querendo ou não, fica preocupada com isso também. Sem dúvida nenhuma são esses os motivos. Não tem nenhum outro motivo, realmente são esses os motivos da minha saída do clube.

O jogador foi perguntado também sobre se teria tido atritos com Vítor Pereira, técnico português que chegou no início da temporada. Ele, porém, negou ter discordâncias com o treinador:

– Não tive nenhum problema com o treinador. Não tive problema com ninguém do clube na verdade, sempre fui tratado com muito respeito e muito carinho dentro do clube, tanto pelos funcionários quanto pelos jogadores, pelo Duilio, pelo Alessandro, o Roberto de Andrade, todos. A comissão técnica ali também, não tive problema com nenhum.

Após a derrota por 1 a 0 para o Flamengo, que eliminou o Corinthians da Libertadores, o presidente do clube, Duilio Monteiro Alves, admitiu que o meia poderia rescindir o contrato. O jogador voltará para a Europa e só lá vai decidir o seu futuro. O Fulham, da Inglaterra, tem interesse na contratação:

– Eu estava havia 15 anos morando fora, só vinha ao Brasil nas férias, passava uns 20 dias com a família, mas não tinha a rotina daqui. Nossa rotina era lá fora. Vir de férias é uma coisa, morar e trabalhar aqui é outra. Meu objetivo é morar fora. Em Londres, tenho passaporte inglês, então consigo viver e morar lá com a família, é meu objetivo. Não que não venha mais visitar o Brasil, passar uns dias com a família, mas para morar, sem dúvida, será lá fora.

– Não tenho clube ainda. Eu vou decidir lá. Vou viajar com a família e lá eu vou decidir com calma, com a cabeça tranquila, ver qual vai ser a melhor opção pra mim e pra minha família também.


Fonte: GE.com

Texto: Felipe Andreoli / Lucas Pieppo
















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